24 de fevereiro de 2014

Claques: Os grandes ditadores do desporto

Escuso-me sempre a falar de futebol, porque algumas pessoas dizem que sou vira casacas. E sou.
Gosto do Benfica que é o clube-pátria e o clube da minha família, gosto do Sporting onde fui atleta muito tempo, mas também gosto do Porto porque é uma grande equipa (e tinha o Deco), com seu polémico presidente, que ao gerir na perfeição aquela empresa, especialmente fora das 4 linhas, é sem dúvida um excelente empresário.
Sou pois, uma eclética do futebol e isso liberta-me do peso da vassalagem.  
À parte de tudo isto, e não entrando em discussões futebolísticas, há coisas que me fazem muita impressão no futebol, cá dentro como lá fora, mas sobretudo cá dentro, que é o que mais vejo.
Coloco a tónica desta minha repulsa, no fanatismo e no extremismo das claques de futebol e de alguns adeptos, sobretudo dos grandes clubes, que se transfiguram de lobisomens ao domingo à tarde para ir à bola, e alguns (miseráveis) ainda voltam para casa com as garras de fora.... Este comportamento não me incomoda apenas pela tendência transgressiva e agressiva contra os adeptos, claques e clubes adversários,  pois que posso condescender (até certo ponto)  e achar "natural", embora demente, a competição desportiva entre os adeptos das equipas contrárias, mas incomoda-me sobretudo quando a raiva é voltada para dentro, como se fosse uma doença autoimune (em que o próprio sistema imonológico ataca e destrói os tecidos saudáveis do corpo), como se um furúnculo nojento e podre nascesse para dentro do seu hospedeiro, ou seja, contra o seu próprio clube. É como se a claque se tornasse numa madrasta vandálica, insurreta e desalmada. O clube perde, e é a Revolta na Bounty.
Que motivos insondáveis tem uma claque para querer exterminar à paulada, o treinador do seu clube? E para incendiar um autocarro cheio de seres humanos, que por acaso jogam à bola no seu clube, mas que também são pais, tios, amigos, filhos?
Que turbe é esta que vai para um estádio de futebol como se fosse para a guerra na Síria? Apetrechados com armas, very lights, totalmente alcoolizados, completamente delirantes e capazes de fazer qualquer coisa, se possível muito estúpida, sem se deterem que naquele mesmo espaço há mulheres e crianças, e outras pessoas normais, que só querem ver um jogo de futebol sem confusões?
Nem sei o que sinto quando vejo a turbe caminhar em bando, toda suada,  esgazeada, aos berros, de tronco nu, carregando garrafas, alguns quase não se detendo de pé, à chuva, ao sol, ladeados de polícias armados até aos dentes... parecem-me prisioneiros de guerra em revolução, parece-me que ali, naquele sinistro conjunto, se descaracterizam, perdem a identidade e são "a claque" e tudo fazem pela claque, e que ainda pode haver outros, espero que muito poucos,  que são bem capazes de morrer pela claque e pelo clube.    
Esta mediocridade, este trogloditismo, este vazio intelectual que se apodera destes adeptos quando vão ao estádio, e falo sobretudo das claques, é de tal maneira animal e primário, que são colocados em jaulas. Em jaulas? E que orgulho poode  haver em estar em jaulas?
De onde vêm esta bizarra fúria, que a meu ver se agiganta, perigosíssima?
A última vez que fui à bola tinha uns 16 anos.
Os adeptos da equipa contrária esfrangalharam um amigo meu, de tal forma que o lábio de cima ficou colado ao queixo. E foi só para lhe pedirem um cigarro, que ele não tinha. Nunca mais fui a um jogo de futebol.
O que penso é que alguns adeptos, especialmente aqueles a quem os clubes dão mais importância e confiança, são ditadores e abusadores dessa confiança, e tudo fazem pelo poder e pela vitória do seu clube, nem que para isso seja necessário fazer rolar umas quantas cabeças dentro da seita, para dar o exemplo e sobretudo para demonstrar quem é que manda ali dentro. Parece que para as claques, os clubes existem por elas, para elas. Ganham por elas. É um tremendo engano. Os futebolistas nem se aproximam das jaulas, não sejam eles próprios mordidos.
Mas então, se gostam assim tanto de pancadaria, porque é que não se juntam todos, constroem uma arena de Gladiadores e fazem uns torneios? Acho que seriam muito mais felizes aí, dentro da arena, cada um com o seu fatinho clubístico, à machadada e à catanada ao respetivo adversário.
E podiam mesmo contratar um monte de cheerleaders de boné, para aplaudir e incitar:
- Dá-lhe na cabeça, mô!
- Mô, dá-lhe na cabeça. 

2 comentários:

  1. "O clube perde, e é a Revolta na Bounty." Desculpe mas a hiperligação não está muito explícita. Não percebo, está mal explicado.

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    1. Olá!
      Desculpe, tem toda a razão.
      A Revolta na Bounty - Bounty era um Navio Inglês - foi um motim levado a cabo por seis dos seus 42 homens.
      Matafóricamente o Baunty são todos os adeptos do clube (33 homens) e a claque (6 homens).
      Estes seis homens fizeram um motim e revoltaram-se contra o comandante, exatamente como fazem as claques quando o clube perde. Fazer um motim num navio não é muito inteligente. fazer um motim num estádio só porque o clube perde também não.
      Vou corrigir o link.
      Obrigada pelo reparo.

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