20 de junho de 2017

A PESTE

Leio por estes dias 'o livro' de Albert Camus.
Conto-vos, para vos aborrecer, como foi que o comprei (e com que dinheiro o comprei), e acho - porque assim foi com toda a gente - que não vão acreditar.
Na Fontes Pereira de Melo, a uns 5 minutos da Feira do Livro, ia eu e o meu sócio em amena cavaqueira, quando de repente uma nota de 10 euros se atravessou à frente dos nossos pés.
Assim mesmo, rasteira, calada, como que a querer conversa.
Os olhos do meu sócio caíram ao chão, e só porque teve de os apanhar é que aproveitou para fazer as honras à nota.
- É falsa!
- Não é nada. Dá cá!
E zás! Limpei-lhe a nota da mão, só para lhe tirar o peso da culpa. Quando ia para lhe dizer blábláblá, que sorte, blábláblá, já viste isto, já ele corria atrás de outras 4 notas, do mesmo grupo e valor da primeira, naturalmente perdidas, para lhes indicar o caminho da Feira.
Foram 50 euros de uma penada, e eu, em vez de guardar as notas para uma ocasião mais solene, sei lá, a vinda da Senhora Dra. Fatura, por exemplo - que me prometeu voltar este mês para bebermos mais um Gin na esplanada do apartamento - resolvi estoirar todo o grupo de notas novas, nos clássicos.

Leio por estes dias Albert Camus.  
A Peste está por todo o lado, mesmos nestas pequenas coisas, extraordinárias.
Achar 50 euros numa rua tão movimentada como a Fontes Pereira de Melo, assim, em pinguinhas dispersas de 10, parece-me quase tão impossível como de repente, na década de 40, uma cidadezinha qualquer do interior, ser açoitada pela Peste e matar a cada dia mais de 500 personagens.

A Peste pode ser perfeitamente a descoberta de que, extraordinariamente, perdemos as últimas 5 notas de dez, assim, às pinguinhas, por as deixarmos cair por um bolso roto algures no meio da grande cidade, quando nos preparávamos para partir.

A Peste, pode ser a recrudescência de uma doença ainda mais fatal do que aquela que lhe deu origem.
A Peste é descobrirmos que a toda a dor alheia é vã, sobretudo quando nos faz felizes.

1 comentário:

  1. Acho que podia viver 200 anos e nunca que ia passar por uma experiência dessas.
    Se passasse, ia olhar em volta a tentar perceber quem as perdeu...

    Eu aguardo o euromilhões para ler todos os livros :))))))

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