30 de junho de 2017

NUA DEMAIS

Há uma expressão muito engraçada, que me ficou na memória, e que colo desde sempre ao meu pai, que é esta:"toda nua com uma faca na algibeira."
Claro que ele, com a sua graça natural, di-lo-á com mais fauteza, mas não deixa de ser um paradoxo muito parecido comigo.
Amiúde, talvez pela ingenuidade de quem é repleto de bonomia - eu - vou por ali fora nas relações sociais ou outras, completamente nua.
Ou despida...
Talvez por isso, por estar nua nas relações com os outros, possa verter menos interesse do que as pessoas que mantém alguma roupa, ou uma simples liga.
Vejamos o que diz Jean Cocteau na sua diagnose da Verdade: «É nua demais; não excita os homens!»

Não é de todo do meu interesse excitar homens ou mulheres quando com eles me relaciono. Pelo menos não no sentido literal da palavra.
É sim de todo o meu interesse, para prazer meu (e dos outros), provocar um quê de excitação no elo que ali estabeleço, excitando o supremo interesse intelectual, como fazemos continuamente nas amizades, ou quando somos demasiado feias.
A liga ou a faca, dependendo do tipo de pessoa que seja, pode ser a única coisa que nos salva de sermos totalmente engolidos por todos aqueles que, artilhados até aos dentes, não se lhes vê um pedaço de pele.

Por isso devemos sempre, como diz tão engraçadamente o meu pai, viver nus com uma faca na algibeira.

Cocteau bem o dizia e é verdade:«tira-lhe a liga e fica tão casta como vestida.»

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