25 de abril de 2018

VAMOS FALAR DE LIBERDADE [e de barrigas short rent]

Amanhã vai a plebe comunista desfilar os cravos na lapela.
Gostava muito de ouvir uma pessoa qualquer, dessas que são entrevistadas pelos jornalixos de fim de semana, escalados para fazer a cobertura das manifestações e das maratonas, responder um coisinha mais original do que que 'estou aqui para celebrar a Liberdade'.
Gostava mesmo.
Gostava que alguém fosse capaz de dizer que estava ali para celebrar a Constituição de 1976, por ter sido o documento fundador da democracia.
Mas não. A maioria das pessoas nem sabe que o Movimento dos Capitães, os tais que salvaram a pátria, só se encanitaram com o Regime Salazarento por razões corporativas, daquelas que tão bem definem a nossa mole de cidadãos: a inveja; a inveja de ser possível aos oficiais milicianos a integração na vida militar mediante um mísero cursinho intensivo na Academia Militar, onde eles, os Capitães, tinham estudado durante anos. E pronto, foi isto, uma guerra de capoeira, uma assunção de superioridade entre os pré-Bolonha e os pós-Bolonha dos militares do Antigo Regime.
E amanhã lá vai a plebe comunista desfilar na Avenida de cravo na lapela.
Eu gostava que alguém se lembrasse de dizer para 'as televisões', que o CDS, esse farol da liberdade dos direitos e garantias do mofo e da naftalina, foi o único que em 1976 votou contra a Constituição, porque empreendeu não embarcar num texto que privilegiava o 'exercício do poder pelas classes trabalhadoras', mas que afinal estava ligado pelas veias ao um acordo com o MFA [Movimento das Forças Armadas] precisamente na defesa dessa classe trabalhadora.
Isto é extraordinário.
Enquanto andávamos todos a tentar lamber as feridas do PREC da esquerda radical, a tentar apanhar os cacos da maravilhosa 'renovação na continuidade' do não menos salazarento Marcelinho do Catano, sem que eclodisse uma guerra civil, como veio a acontecer em Angola e Moçambique, houve um alguém, desses que também desfilam de cravo na lapela na Avenida, que votou contra o documento fundador da democracia em Portugal, o mesmo que em 1982 criou o Tribunal Constitucional (TC),  exatamente o mesmo orgão que serviu de bengala ao CDS para travar a fundo nas barrigas de aluguer.

Vamos falar de Liberdade?

1 comentário:

  1. Ando fugida dos blogues mas é sempre um prazer vir ler-te. É fácil falar sem se saber - assim o digo por mim. Mas leio sempre na expectativa de saber um pouco mais. e hoje já aprendi com este e outros textos teus (não conhecia aquela capa do Salazar, dean of dictators). E, já agora, boa sorte para o bus, para os estudos e para tudo o resto.

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